O IPDF avaliou o perfil das pessoas que fazem o trajeto casa-trabalho e casa-estudo conforme recortes por sexo, idade, raça e renda. Estrutural, Paranoá e São Sebastião são regiões onde mais se usa bicicleta para ir trabalhar
Seja de carro, moto, ônibus, metrô ou até a pé, a mobilidade urbana está inteiramente envolvida nas relações econômicas e sociais. Para entender como os brasilienses se deslocam pela cidade, o Instituto de Pesquisa e Estatística do Distrito Federal (IPEDF), divulgou uma pesquisa que detalha os trajetos de domicílio ao local de trabalho e ao local de estudo e os principais meios de locomoção utilizados pelos habitantes.
O estudo mostra que 97,5% dos moradores do Lago Sul, fazem uso do automóvel como meio de transporte principal, seguido de Sudoeste/Octogonal (88,4%) e Lago Norte com (86,9%). Já em relação ao uso de bicicleta para ir ao trabalho pelos habitantes, o levantamento revela que a Região Administrativa do SCIA/Estrutural aparece disparada em primeiro, com 10%. Seguido de Paranoá (3,4%) e São Sebastião (3,3%).
A pesquisa reflete a realidade, basta andar poucos minutos pela Estrutural para observar muitas pessoas se locomovendo de bicicleta pela cidade. O jovem Thiago Aguiar, 22 anos, é um dos moradores que utilizam a bicicleta durante a semana para ir trabalhar no Sudoeste, segundo ele, a escolha pela bike traz diversos benefícios.
“Eu escolhi (a bicicleta) porque além de economizar na passagem, porque teria que pagar R$ 5,50, pegar ônibus lotado e ainda caminhar uma parte, acabo ao mesmo tempo realizando atividade física. Então é unir o útil ao agradável, transformando a necessidade de ir trabalhar em algo que faz bem para a minha saúde”, explica.
Além de economizar dinheiro e garantir o treino cardio do dia, Thiago destaca que economiza no trajeto para chegar ao trabalho. “Se eu for de ônibus, saio daqui 5h e chego às 6h. Quando vou de bike eu chego lá 5h30, ou seja, diferença de muito tempo”, afirmou.
Para Adriana Modesto, doutora em transportes e mestre em ciências da saúde pela Universidade de Brasília, para compreender os padrões de deslocamentos da pesquisa, é preciso elencar elementos inerentes a área de transportes tais como os sistemas de transporte (infraestrutura e operação), além de aspectos socioeconômicos que irão influenciar os padrões existentes.
“Se a população economicamente ativa da Estrutural promove seus deslocamentos fazendo uso prevalente da bicicleta, seja influenciado pela distância entre o local de residência e o local de trabalho ou determinado pela insuficiência econômica, uma vez que o custo com o transporte público coletivo acaba por comprometer de forma mais severa a renda dos segmentos da população mais pobres, é importante que haja não só a oferta de malha cicloviária, mas que essa conte com manutenção, continuidade e iluminação, possibilitando que os usuários façam seus deslocamentos com conforto e segurança”, destaca a especialista.
Demais meios de transporte
Em relação ao uso do ônibus, a pesquisa mostra que os maiores percentuais foram observados no Sol Nascente/Pôr do Sol (62,8%), Paranoá (58,1%) e São Sebastião (53,1%). Já os trajetos ao trabalho realizados a pé, tiveram mais representatividade nas RAs de Brazlândia (22,7%), SIA (22,6%) e Varjão (21,4%).
Pela disponibilidade e existência de linhas, as Regiões Administrativas de Águas Claras, Samambaia e Ceilândia, apresentam respectivamente (10,3%), (7,0%) e (6,3%) o uso do metrô para a ida ao trabalho.
A especialista em transportes reitera que em relação ao pedido de expansão do metrô pelos moradores do DF, devem ser considerados fatores relacionados à eficiência do serviço como a demanda, além da necessidade de uma análise de viabilidade técnico econômica para verificar se o metrô ou outra modalidade de alta capacidade seria a melhor solução, já que obras subterrâneas, considerando-se o tombamento do Plano Piloto, por exemplo, tornam a infraestrutura mais vultosa.
“Não é da noite para o dia, o sistema metroviário veio tardiamente no brasil. O metrô de São Paulo surgiu na década de 70, o de Buenos Aires, na Argentina, tem mais de cem anos. Quanto mais a gente demora para ter a ampliação do nosso sistema metroviário, mais caro vai ficando”, explicou, Adriana Modesto.
Deslocamento casa-estudo
No deslocamento entre a residência e o local de estudo, o automóvel foi mais utilizado entre os residentes do Park Way (77,9%), Lago Sul (76,9%) e Sudoeste/Octogonal (76,8%), enquanto o uso do ônibus foi maior no Itapoã (45%), Sol Nascente/Pôr do Sol (42,7%) e Riacho Fundo II (37,6%),
O metrô foi mais usado em Águas Claras (7,3%), Guará (3,4%) e Ceilândia (2,3%). Analisando a mobilidade ativa, o deslocamento a pé foi mais significativo na Ceilândia (59,6%), Recanto das Emas (50,7%) e Samambaia (44,6%).
Recorte sociodemográfico
Segundo os dados da pesquisa, em relação ao deslocamento para o trabalho, os usuários de automóveis são 51,9% homens e 43,8% mulheres. Mulheres negras são as que mais vão para o trabalho de ônibus (45,5%) e a pé (12,7%). O estudo também revela que as mulheres negras também são as que menos usam o carro para ir ao trabalho. O estudo revela que esse público é mais frequente no metrô em comparação com os demais grupos.
A diretora de estudos e políticas ambientais e territoriais do IPEDF, Renata Florentino, explica que a análise desses dados permite criar políticas públicas específicas para os usuários mais frequentes de cada meio de transporte. De acordo com ela, o ideal é dar visibilidade para os passageiros e fazer com que haja mais conforto e agradabilidade.
“A participação da mulher no meio do transporte coletivo é até algo para subsidiar campanhas de prevenção ao assédio e importunação sexual, que são ocorrências características desse meio de transporte”, diz Renata.
Outro ponto revelado pela pesquisa é de que os homens negros são o segundo menor grupo que usa carro no Distrito Federal. Os automóveis são usados mais por homens não negros, em primeiro lugar, seguido pelas mulheres não negras.