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Na contramão da queda nacional, Goiás é um dos que mais produz grãos

A redução dos grãos no país reflete problemas climáticos crescentes

POR GUSTAVO SOARES

A colheita de cereais, leguminosas e oleaginosas no Brasil vai alcançar  neste ano 296,8 milhões de toneladas, segundo o Levantamento Sistemático da Produção Agrícola (LPSA), divulgado pelo IBGE nesta quinta-feira, 13. São 18,6 milhões de toneladas abaixo dos resultados de 2023, que foram de 315, 4 milhões de toneladas. A área que vai ser colhida este ano tem 78,3 milhões de hectares, 0,6% (445.140 hectares) a mais que a área colhida no ano passado. 

Segundo o relatório, a queda de produção é resultado do impacto da crise climática que aconteceram entre 2023 e 2024. A ausência de chuvas e as altas temperaturas na região Centro-Oeste diminuíram o ciclo de algumas lavouras, afetando a produtividade. Segundo o gerente de agricultura do IBGE, Carlos Alfredo Guedes, “produtores tiveram que fazer replantio, caso da soja, e outros optaram por aumentar a área de algodão, cuja produção está batendo recorde com estimativa de 8,5 milhões de toneladas”. O algodão é o único produto a apresentar recorde de produção, com alta de quase 10%. 

Na contramão da maioria, Goiás está em quarto lugar entre os seis estados que mais produziram grãos no último ano. Foram 31,4 milhões de toneladas para a safra 2023/2024, o que corresponde a 10,6% da produção nacional. Foram 1,4 milhões de toneladas de tomate, totalizando ⅓ da produção do país. Em cereais de inverno Goiás a produção alcançou 103,8 mil toneladas. 

A avaliação da Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento sobre o avanço é positiva: “Os produtores cada vez mais buscam investimentos em tecnologias, em variedades adaptadas às realidades produtivas. Eles [produtores] têm acessado cada vez mais linhas de créditos, sendo a principal delas o FCO [Fundo Constitucional de Financiamento do Centro-Oeste]”, diz Pedro Leonardo Rezende, responsável pela pasta. 

Em Goiás, a área de plantio da soja aumentou 1,6%, aumentando a produção, mas deve colher cerca de 16,1 milhões de toneladas, menos 3,6% da colheita anterior por conta das condições climáticas. Com o Sorgo a situação se repete. Mesmo com o aumento de 10,2% da área produzida em Goiás, o rendimento caiu em 6,8%, impedindo o maior avanço da produção. 

A previsão de produção nacional para soja é de 146,7 milhões de toneladas, com queda de 3,5% em relação a 2023 mesmo com aumento de área plantada de 3,5%.  Em relação ao milho se espera produzir 114,5 milhões de toneladas. A área de plantio do cereal diminuiu 8,6% na primeira safra e 3,5% na segunda. O trigo pode chegar até 9,6 milhões produzidas, com declínio de 2,5% comparado a abril. Já o arroz prevê 10,5 milhões de toneladas, também abaixo da média do ano anterior.

O gerente do levantamento, Carlos Barradas, aponta as causas da restrição. “A maior parte das lavouras já estavam colhidas, mas o que ainda estava em campo foi afetado. A redução da produção no Rio Grande do Sul, em maio, em relação ao mês anterior, foi compensada pelos aumentos em Minas Gerais, onde foram identificadas novas áreas de produção, sob pivô nos municípios de Paracatu e Unai, assim como crescimentos de produção no Paraná (2,1%), Mato Grosso do Sul (4,9%), Goiás (9,8%) e Mato Grosso (18,1%). A produção de arroz deve atender o mercado interno. As chuvas e as enchentes no Rio Grande do Sul devem reduzir a produção, mas não o suficiente para faltar arroz no mercado”. 

Modelos de agricultura e pecuária fundamentados principalmente na dimensão econômica oferecem por um tempo dados satisfatórios de produtividade, no entanto  apresentam consequências ambientais que implicam em perdas na produção. Entre essas consequências estão perda de biodiversidade, diminuição de polinizadores, uso irregular de agrotóxicos, erosão dos solos, secas vividas pela região norte em 2023 e as enchentes no sul. 

Diante desse contexto, a doutora em desenvolvimento rural, Fabiana Thomé, afirma que é essencial considerar práticas sustentáveis, como agroecologia, agroflorestas e uso de bioinsumos. “A transição em direção à modelos de agropecuária mais sustentáveis requer investimentos financeiros, mas principalmente novos olhares sobre a Natureza e nossa relação com ela. É urgente revermos nossa relação com a Natureza. Produzir de modo mais sustentável não é mais uma opção, mas sim uma necessidade”, afirma a especialista.

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