Segundo pesquisadores, a condição pode afetar a memória devido a alterações no cérebro, níveis mais baixos de serotonina e dopamina
Gabriela Maraccini da CNN
Sintomas depressivos podem acelerar a perda de memória em pessoas mais velhas, segundo um novo estudo publicado no dia 11 de junho, no JAMA Network Open. O trabalho, liderado por investigadores da University College London (UCL) e da Brighton and Sussex Medical School, mostrou que a depressão e a memória estão intimamente relacionadas, e uma pode afetar a outra.
“Sabe-se que a depressão e a falta de memória geralmente ocorrem juntas em pessoas mais velhas, mas o que vem primeiro não está claro”, afirma Dorina Cadar, autora sênior do estudo e pesquisadora do Departamento de Ciência Comportamental e Saúde da UCL e da Brighton and Sussex Medical School.”
“Nosso estudo mostra que a relação entre depressão e falta de memória ocorre em ambos os sentidos, com os sintomas depressivos precedendo o declínio da memória e o declínio da memória ligado a sintomas depressivos subsequentes”, completa.
O trabalho analisou dados longitudinais de 16 anos de 8.268 adultos na Inglaterra, com uma idade média de 64 anos. Segundo o estudo, as pessoas que, inicialmente, tinham sintomas depressivos mais elevados eram mais propensas a experimentar um declínio da memória mais acelerado no futuro, enquanto aquelas que já tinham uma memória enfraquecida eram mais propensas a experimentar um aumento posterior nos sintomas depressivos.
Além disso, os participantes que experimentaram um aumento maior nos sintomas depressivos durante o estudo tinham maior probabilidade de ter um declínio na memória mais acentuado ao mesmo tempo, e vice-versa.
Relação entre memória e depressão
De acordo com os pesquisadores, a depressão pode afetar a memória devido a alterações no cérebro relacionadas à condição, incluindo desequilíbrios neuroquímicos como níveis mais baixos de serotonina e dopamina. Além disso, alterações estruturais envolvidas no processamento da memória e perturbações na capacidade do cérebro de se reorganizar e formar novas ligações também estão associadas à depressão.
Além disso, a equipe de cientistas explica que as deficiências de memória podem surgir devido a fatores psicológicos, como a ruminação — pensamento repetitivo ou permanência de sentimentos negativos.
Por outro lado, pessoas que experimentam lapsos de memória ou dificuldade em reter novas informações podem experimentar sentimento de frustração, incompetência e insegurança, gatilhos comuns para episódios depressivos. Outro fator é a interação social, que pode ser comprometida devido à perda de memória, levando ao isolamento social e, consequentemente, desencadeando os sintomas depressivos.
“A depressão pode causar alterações nas estruturas cerebrais, como o hipocampo, que é fundamental para a formação e recuperação da memória. O estresse crônico e os altos níveis de cortisol associados à depressão podem danificar os neurônios nessas áreas”, explica Cadar.
“No entanto, uma maior compreensão dos mecanismos que ligam o declínio da memória e a depressão é crucial para o desenvolvimento de intervenções direcionadas destinadas a melhorar o humor e a retardar o declínio cognitivo em indivíduos com depressão e comprometimento da memória”, completa.
Novas possibilidades de diagnóstico precoce de perda de memória
Para Jiamin Yin, autor principal do estudo e estudante de doutorado na Universidade de Rochester, em Nova York, Estados Unidos, as descobertas do estudo “ressaltam a importância de monitorar as mudanças de memória em adultos mais velhos com sintomas depressivos crescentes para identificar precocemente a perda de memória e prevenir agravamento adicional da função depressiva”.
“Por outro lado, também é fundamental abordar os sintomas depressivos entre aqueles com declínio de memória para protegê-los do desenvolvimento de depressão e disfunção de memória”, acrescenta.
Apesar dos achados, os pesquisadores consideraram que há uma série de fatores que podem ter afetado os resultados, como a prática de atividade física e doenças que afetam a qualidade de vida. Por isso, eles ressaltam que se trata de um estudo observacional, ou seja, não foi possível estabelecer causalidade.