Cadáveres tinham marcas de tiro e uma flecha foi encontrada no local. Corpos foram encontrados durante um sobrevoo da Polícia Federal na região de Uxiu, na Terra Yanomami.
Por Marcelo Marques, g1 RR e Rede Amazônica — Boa Vista
Corpos de ao menos oito garimpeiros foram encontrados por agentes da Polícia Federal nessa segunda-feira (1º) em Uxiu, na Terra Indígena Yanomami. Os cadáveres estavam na mesma região em que um agente de saúde indígena foi assassinado a tiros e outros dois Yanomami ficaram feridos, no último sábado (29).
Os corpos foram localizados durante um sobrevoo da Polícia Federal na região. Os cadáveres estavam uma espécie de cratera e tinham marcas de tiros. Além disso, a perícia da PF encontrou uma flecha no local.
Agora, o caso é investigado pela PF, que também reforçou a segurança na região com apoio da Força Nacional, segundo informações apuradas pela Rede Amazônica.
Procurado, o Ministério da Justiça informou que o caso está sob responsabilidade da Polícia Federal. A Funai, Ministério dos Povos Indígenas e Ibama não se pronunciaram sobre o assunto até a última atualização da reportagem.
A suspeita é que as mortes tenham relação com o ataque aos indígenas da comunidade. Com base em relatos dos indígenas que vivem na região, a Hutukara afirma que, após o ataque, ocorrido no sábado (29), um grupo de indígenas ainda seguiu os invasores pelo rio, mas eles revidaram novamente com tiros.
Uxiu fica na região do rio Alto Mucajaí, uma das rotas usadas pelos criminosos no território. As três vítimas indígenas foram baleadas por garimpeiro que atuam na região, informou o presidente Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e Ye’kwana (Condisi-YY), Júnior Hekurari Yanomami.
Eles foram socorridos de Uxiu por equipes que atuam em Surucucu, onde há uma unidade de referência em saúde, por volta de 15h30 desse sábado. Ferido gravemente na cabeça, Ilson Xiriana chegou à unidade desacordado, não resistiu e morreu às 5h33 deste domingo.
Os garimpeiros, segundo as primeiras informações recebidas por Hekurari, chegaram à comunidade Uxiu e abriram fogo. “Alguns estavam encapuzados”, afirmou ele, com base no relato de um dos feridos.
O jovem de 24 anos levou dois tiros no abdômen e estava com sangramento constante. O outro ferido, de 31, teve dois tiros no abdômen, dois na perna e vomitava bastante. Além disso, a equipe identificou ferimento na lombar. Ambos foram removidos para o hospital em Boa Vista.
Depois do ataque, a Polícia Federal abriu investigação e, no domingo (30), enviou agentes para a comunidade. Durante as diligências, segundo a PF, foram apurados indícios dos crimes cometidos contra os indígenas, testemunhas foram ouvidas, e foi feita a perícia no local de crime. Agora, aguarda a elaboração dos respectivos laudos e relatórios para prosseguimento das investigações.
Uma comitiva com a ministra da Saúde, Nísia Trindade, a dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara e a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, esteve em Roraima para acompanhar a situação depois do ataque. Marina e Sônia Guajajara, sobrevoarem a região onde houve o confronto.
Garimpeiros na Terra Yanomami
Alvo há décadas de garimpeiros ilegais, a Terra Yanomami, maior território indígena do Brasil, enfrentou nos últimos o avanço desenfreado da atividade ilegal no território. Em um ano, a devastação chegou a 54%.
A presença de garimpeiros leva ao território a destruição ambiental, insegurança, causa conflitos armados e impacta, principalmente, na saúde dos indígenas. Atualmente, o território enfrenta uma grave crise sanitária e humanitária devido ao avanço do garimpo ilegal e desassistência do governo federal, com dezenas de indígenas doentes com malária, desnutrição e verminose.
Na tentativa de frear e combater o avanço do garimpo, o governo do presidente Lula (PT) deflagrou operação conjunta contra os invasores. Dentro do território, agentes do Ibama, Funai, Força Nacional e PF atuam com ações de enfrentamento, queimando aeronaves e apreendendo materiais de suporte para a vasta logística de garimpeiros.
Enquanto isso, também são feitos atendimentos de saúde aos indígenas doentes. Esses atendimentos ocorrem dentro do território, com equipes que atuam no polo de Surucucu, no Hospital de Campanha, em Boa Vista, e também nos hospitais públicos infantil e adulto, quando os casos se agravam.