Conceito fez parte das conversas na cúpula realizada em Belém; floresta entra num processo de savanização caso ultrapasse um índice de desmatamento, segundo a ministra do Meio Ambiente
Nilson Cortinhas colaboração para a CNN/Belém
Nos últimos debates da Cúpula da Amazônia, a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima do Brasil, Marina Silva, explicitou uma preocupação comum aos países que participaram da agenda, em Belém.
“Todos os presidentes concordam que a Amazônia não pode passar do “ponto de não retorno” [termo que se refere ao ponto em que a floresta não terá mais capacidade de autorregeneração]. Se passar de 25% [de desmatamento] é o ponto de não retorno, a floresta entra num processo de savanização. E será a destruição”, disse.
A Declaração de Belém, documento gerado pela Cúpula da Amazônia, encerrada quarta-feira (9), expressou a necessidade urgente de cooperação para evitar o “ponto de não retorno” na Amazônia.
Historicamente, a Amazônia sofre com a ação predatória do homem. Após anos de destruição do bioma, um estudo de cientistas e líderes indígenas aponta para o colapso da região em 2029.
Seria trágico para o bioma responsável por 75% do Produto Interno Bruto (PIB) da América do Sul, segundo estimativas defendidas por Marina. “A Amazônia também é responsável pelo equilíbrio ambiental do mundo”, frisou a ministra.
“Destruir a floresta significa a destruição do nosso sistema de chuvas. Só não somos um deserto porque temos a Amazônia”, defendeu.
Financiamentos
Criar uma política ambiental unificada é outro ponto destacado da Declaração de Belém, o que levou o Brasil e os demais países da cúpula a alinharem discursos pelo financiamento de programas de combate a ilícitos ambientais.
Alguns países defenderam até o fim ou diminuição da dívida externa como uma espécie de recompensa para o esforço de reduzir o desmatamento.
Está claro que o recado tem como destinatário os países ricos. “É a natureza que precisa de dinheiro, precisa de financiamento. É a Amazônia falando para o mundo”, disse o presidente Lula, na cúpula.
Ao lado de chefes de Estado ou representantes de Bolívia, Colômbia, Guiana, Equador, Peru, Suriname e Venezuela, Lula ressaltou: “Identificamos convergências e é urgente e necessário a atuação conjunta”.
Resistências
A subida de tom do governo brasileiro, anfitrião da cúpula, também se apoia em números que avalizam a política ambiental. De acordo com dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o Brasil reduziu alertas de desmatamento em 42,48%, considerando os meses de janeiro e julho, comparando ao mesmo período de 2022.
Apesar do protagonismo brasileiro, a ideia do governo Lula de desmatamento zero até 2030 encontrou resistência em outros integrantes da cúpula.
Educação
O presidente Lula também revelou um desejo de incluir as questões relativas à Mudança de Clima como tema permanente nas escolas.
“Que faça parte do currículo escolar. Se você não colocar na escola, você não cria uma geração capaz de educar os mais velhos e as futuras gerações”, declarou o presidente, adiantando que sinalizará o assunto ao ministério da Educação.
O debate frequente é necessário, de acordo com avaliações de Marina Silva. Ela ressaltou que a Cúpula da Amazônia, que reúne os países da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA), criada em 1978, estava há 14 anos sem uma reunião.
“Esse espaço de tempo foi prejudicial”, considerou.