POR EULER DE FRANÇA BELÉM
Por necessidade, e não por amor, os líderes do PL, do PSD e do PSDB podem se unir para enfrentar o exército eleitoral dirigido por Ronaldo Caiado e Daniel Vilela
Cada eleição tem sua história. É o óbvio. Mas eleições às vezes são conectadas. Porque uma prepara a base política para a disputa seguinte. Por que o presidente da Assembleia Legislativa de Goiás, Bruno Peixoto, está circulando pelo interior? Está articulando candidaturas a prefeito e a vereador porque planeja ser candidato a deputado federal em 2026, daqui a dois anos e quatro meses. Portanto, está montando uma base político-eleitoral para reforçar sua futura postulação.
Se um possível candidato a deputado federal está articulando em vários municípios, porque, para ser eleito, precisará obter mais de 100 mil votos, aqueles que planejam disputar mandato de governador e senador, postulações majoritárias, precisam trabalhar redobrado. Por isso, Daniel Vilela, Gracinha Caiado, Marconi Perillo, Ronaldo Caiado e Wilder Morais, entre outros, estão operando, desde já, em todo o Estado. Todos trabalham na remontagem de suas bases — com o objetivo de reforçar a musculação política delas e, daí, as próprias.
O desenho da disputa de 2026 ainda não está pronto, dada a distância do pleito. Mas já há um esboço inteligível — uma relativa clareza — sobre as possíveis alianças eleitorais.
Daniel Vilela e Gracinha Caiado
Pode-se sugerir que uma chapa já está praticamente formatada; portanto, é mais um desenho do que um esboço. Trata-se da chapa que terá, possivelmente, Daniel Vilela (MDB) como candidato a governador e Gracinha Caiado (União Brasil) — que sabe tudo de política e é popular (basta perguntar aos prefeitos e prefeitas de todo o Estado) — como postulante a uma vaga no Senado.
Então, meia chapa da base governista está praticamente formatada. Falta definir o vice e o outro candidato a senador. As duas vagas certamente ficarão para negociação política, mas só em 2026. Há nomes prováveis? Há. Sempre há. Para a vice, há, por exemplo, o ex-prefeito de Aparecida de Goiânia Gustavo Mendanha. Trata-se de um jovem político que disputou o governo de Goiás em 2022, contra Ronaldo Caiado, e se tornou muito forte tanto em Aparecida quanto em Goiânia. Na primeira, é general eleitoral; na segunda, cabo eleitoral (o general eleitoral da capital é o governador Ronaldo Caiado). Quer dizer, uma referência… positiva.
Gustavo Mendanha: o ex-prefeito está no jogo para a disputa de 2026 | Foto: Jornal Opção
Quanto à vaga para o Senado, altamente cobiçada, os demais partidos da base governista, como pP, Republicanos, Solidariedade, entre outros, vão colocar seus nomes. Fala-se que Gustavo Gayer (ou Major Vitor Hugo) pode ser o candidato a senador na base governista, ao lado de Gracinha Caiado.
Mas há uma pedra no caminho: Gayer pertence ao PL, que planeja lançar candidato a governador, o senador Wilder Morais, presidente do partido em Goiás.
De qualquer forma, Gayer na base governista é uma possibilidade, que não pode ou não deve ser descartada. Sobretudo porque o PL nacional poderá apoiar a candidatura de Ronaldo Caiado a presidente da República. Se isto acontecer, o quadro de aliança mudará em Goiás. Sem dúvida alguma.
Uma união geral das direitas patropis, bancando Ronaldo Caiado para presidente, reformatará, de uma hora para outra, o quadro político-eleitoral de Goiás. O PL certamente irá para a chapa majoritária, com uma vaga para Gayer (ou Major Vitor Hugo) na disputa pelo Senado.
Entretanto, há outra possibilidade, mas que dependerá, como se viu, do desenho ou redesenho do quadro nacional.
O jogo de Wilder Morais
Wilder Morais opera, neste momento, a montagem de uma base político-eleitoral, em todo o Estado, contra tanto o governador Ronaldo Caiado quanto contra o vice-governador Daniel Vilela.
O senador do PL gostaria de ter o apoio de Ronaldo Caiado, que é seu amigo. Mas como o governador já definiu que seu candidato será Daniel Vilela — que deve assumir o governo no dia 4 de abril de 2026, num sábado, daqui a um ano e nove meses —, não há composição possível com Wilder Morais.
Restam dois caminhos para Wilder Morais: disputar o governo do Estado ou, então, cavar uma vaga para um integrante do PL, como Gayer, na chapa majoritária articulada por Daniel Vilela e Gracinha Caiado.
A rigor, Wilder Morais não tem um projeto partidário, quer dizer, para o PL. Ele tem um projeto para si, ou seja, quer disputar o governo do Estado — custe o que custar, inclusive uma possível debacle da chapa de candidatos a deputado estadual e federal.
Um observador da política, que nem precisa ser dos mais atentos, percebe que Wilder Morais está trafegando, com relativa desenvoltura, nas cidades com maior eleitorado de Goiás, buscando lançar candidatos a prefeito, como Gayer (ou Fred Rodrigues em Goiânia), Professor Alcides Ribeiro (em Aparecida), Márcio Corrêa (em Anápolis), Lissauer Vieira (em Rio Verde). São as quatro cidades com maior número de eleitores de Goiás.
Portanto, o senador do PL está tentando montar uma base político-eleitoral — que Gustavo Mendanha não teve na disputa de 2022 — para saber se tem alguma chance de ser candidato a governador. Se o resultado for negativo, ainda assim ele terá montado uma estrutura razoável para alavancar uma candidatura ao governo.
Wilder Morais é um político de direita? A rigor, pertence mais à nebulosidade do centro. Seu perfil é parecido ao dos tucanos — dos que ficam em cima do muro — e ao da turma do Centrão. Mas, por uma questão de oportunidade política, acoplou-se à direita bolsonarista. Mas ele próprio é um bolsonarista ocasional, nada raiz.
Em 2026, o senador tentará ser a aposta da direita em Goiás. Mas enfrentará uma barreira: Daniel Vilela é um político de centro — dos mais moderados, assim como seu pai, Maguito Vilela — mas conta com o apoio da figura mais expressiva da direita no Estado, Ronaldo Caiado. A rigor, o possível postulante do MDB contará com o apoio do centro e da direita.
O tripé das oposições em Goiás
Sem um padrinho forte, como Ronaldo Caiado, o que restará a Wilder Morais? Acoplar-se a outros líderes que não pertencem ao grupo do governador — como Vanderlan Cardoso, do PSD, e Marconi Perillo, do PSDB.
O senador Vanderlan Cardoso deve ser candidato a prefeito de Goiânia. Não é fraco. Pelo contrário, é forte. Mas, dado o seu grau de isolamento político, terá dificuldade no enfrentamento direto com Gayer, Adriana Accorsi, do PT, e Sandro Mabel, do União Brasil.
Se for derrotado em Goiânia, restará a Vanderlan Cardoso a disputa da reeleição, em 2026. Fala-se também que pode ser candidato a governador. Mas quem perdeu — se perder, é claro — para prefeito da capital, terá chance de vencer um pleito muito mais difícil? Poderá ter o apoio do PT. Mas ele trocará o eleitorado conservador (de matiz evangélico), que o apoia há anos, por uma aliança com a esquerda? Talvez sim. Talvez não. Mais provável que não.
Se não houver espaço — e é quase certo que não haverá — na chapa majoritária composta por Daniel Vilela e Gracinha Caiado, Vanderlan Cardoso terá de compor com alguém, até para tentar sobreviver politicamente.
Então, a tendência é que Vanderlan Cardoso passe a integrar o grupo de Wilder Morais, com este saindo a governador e o presidente do PSD a senador.
Se confirmada uma aliança entre Wilder Morais e Vanderlan Cardoso, dois empresários milionários, estará configurada a chapa da segunda via (a primeira via é a chapa de Daniel Vilela e Gracinha Caiado).
Como são duas vagas para senador, resta conquistar mais um apoio. O PT não será, porque o PL terá candidato a presidente para enfrentar o presidente Lula da Silva (ou seu candidato), o petista-chefe.
O apoio pode ser de Marconi Perillo (PSDB), que, se disputar o governo como candidato-solo — outsider —, será pinto de granja na boca de gaviões carcarás.
Quatro vezes governador de Goiás, o tucano está calejado, com duas derrotas para senador. Por isso, possivelmente, tentará se amparar num grupo político e talvez aceite disputar mandato de senador, correndo o risco, mais uma vez, de ficar fora do Congresso.
Noutras palavras, Marconi Perillo pode se juntar a Wilder Morais e Vanderlan Cardoso para formatar um grupo que agregue parte substancial das oposições.
Wilder Morais, Vanderlan Cardoso e Marconi podem se unir, não por amor, e sim por necessidade de sobrevivência política.
Marconi Perillo, por sinal, adotou o discurso da direita, esquecendo-se que o campo conservador já está ocupado pelo bolsonarismo. Como disse um ex-tucano, Henrique Santillo deve ter se “revirado” no túmulo ao “saber” que seu discípulo, na verdade um socialdemocrata, está se tornando reacionário.
No campo da esquerda, se não conquistar o apoio de Vanderlan Cardoso — espécie de direitista que poderia “purificar” o esquerdismo do PT —, restam Adriana Accorsi e Rubens Otoni, políticos, por sinal, de alta qualidade.
Se eleita em Goiânia, Adriana Accorsi terá um peso decisivo na disputa eleitoral de 2026 — entabulando, quem sabe, uma aliança com Vanderlan Cardoso. Mas, se perder, o PT caminhará, por certo, sozinho ou com o PSB do ex-deputado federal Elias Vaz e do senador Jorge Kajuru.
Noutras palavras, o PT ficará como terceira via, tendo de competir com a possível segunda via de Wilder Morais, Vanderlan Cardoso e Marconi Perillo.