Ambulantes acusam servidores comissionados de cobrança irregular no uso de área pública nas comemorações de 132 anos de Planaltina de Goiás
Nathália Cardim – Metrópoles – DF
Vereadores de Planaltina de Goiás (GO), município goiano localizado no Entorno do Distrito Federal, distante a cerca de 60 km da capital da República, receberam denúncia de um esquema de corrupção no aniversário de 132 anos da cidade, celebrado em março deste ano com um evento milionário.
Além dos gastos públicos com a festa em contratos de grandes shows e estrutura, avaliados em mais de R$ 1,3 milhão, empregados comissionados e de empresas terceirizadas cobraram taxas de vendedores ambulantes pela ocupação do espaço público destinado às barracas para venda de bebidas e comidas na praça de alimentação do evento gratuito.
Alguns comerciantes informais procuraram a Câmara Municipal para denunciar que a Prefeitura de Planaltina de Goiás abriu mão da cobrança para a instalação das barracas de lanches, mas servidores das secretarias de Cultura e Turismo e de Saúde cobraram irregularmente pelo espaço com transferências bancárias em contas pessoais por meio de Pix.
“Sempre trabalhei em eventos na cidade vendendo bebidas e lanches. Tivemos alguns problemas em outros eventos e disseram que eu não trabalharia mais nas festas da cidade. Quando foi agora, no aniversário, me disseram para eu fazer a inscrição e que seria cobrado R$ 250 por noite”, relatou ao Metrópoles um representante dos ambulantes que preferiu não se identificar por medo de sofrer retaliações.
Protocolo
Nesta semana, os vereadores Victor Dimba (PRTB) e Carlim Imperador (PROS) representaram ao Ministério Público do Estado de Goiás (MPGO) pedido de investigação sobre o caso.
A solicitação também foi protocolada na Polícia Federal (PF) e na Delegacia Estadual de Repressão a Crimes Contra a Administração Pública (Dercap) de Goiás.
Segundo Victor Dimba, vereador que assina o Ofício nº 012/2023 enviado à Controladoria-Geral do Município para cobrar explicações sobre o orçamento da comemoração, o recolhimento das barracas, por exemplo, deveria ter sido feito via boleto pela prefeitura por se tratar de uma área pública em um show gratuito.
Eles apresentaram documentos, comprovantes de transferências via Pix, além de vídeos, áudios e prints de conversas com indícios das cobranças no aplicativo WhatsApp.
“Além de ser uma cobrança indevida, não houve critério. Teve barraqueiro que pagou R$ 3 mil, outros pagaram valores de R$ 500, R$ 300 e R$ 1,5 mil para instalar o comércio na festa, nos três dias. A corrupção foi desenfreada”, pontuou Dimba.
Veja imagens das denúncias de corrupção:
A reportagem teve acesso às gravações de voz em que a mulher, identificada como Ana Júlia, explica a um dos ambulantes como funcionava a arrecadação dos valores a serem pagos. No áudio, ela chega a citar o nome de outro comissionado, lotado na Secretaria de Saúde, Francilon Dias, que estaria envolvido na cobrança. Em alguns casos, conforme prints de conversas aos quais a reportagem teve acesso, ela ainda oferece pulseiras de acesso a um camarote vip, só para convidados.