Presidente do Banco Central abriu a primeira Conferência Anual do BC com um panorama do cenário inflacionário no Brasil e do mundo
Diego Mendesda CNN – São Paulo
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou nesta quarta-feira (17) que a velocidade da desinflação começa a ficar mais lenta, tanto no Brasil, quanto nos demais países.
“Como temos argumentado, o processo de desinflação deve continuar, porém, de forma não-linear. Os núcleos da inflação estão mais resilientes devido à difusão da inflação entre setores e pressões subjacentes ainda fortes e componentes mais rígidos como serviços“, afirmou.
Campos Neto participou da abertura da primeira Conferência Anual do Banco Central do Brasil. Em sua apresentação, online, ele disse que a realização desta conferência é um momento propício para retomar as discussões sobre temas relacionados às atividades de bancos centrais.
Segundo ele, em relação à ação dos bancos centrais, mesmo levando em consideração essa questão de estabilidade financeira, o combate à inflação continua sendo um grande desafio para as instituições.
Campos Neto ressaltou que o BC brasileiro foi um dos primeiros bancos centrais a iniciar esse aperto monetário, ainda em março de 2021. “Essa reação tempestiva, em grande parte, se deu à nossa percepção inicial sobre a natureza da inflação atual e ao fato que a inflação no Brasil começou a aumentar antes do que em outros países.”
Para o presidente do BC, desde o início, a equipe tinha uma visão diferente sobre a natureza da inflação atual. “Enquanto alguns viam a inflação como um evento transitório decorrente de restrições de ofertas temporárias, nós víamos o processo inflacionário como um evento mais persistente, com importante componente de demanda.”
Essa abordagem proativa de aperto monetário, que levou a taxa básica de juros a um território restritivo, foi oportuno, na visão de Campos Neto. “Nota-se que essa estratégia começa a dar resultados. A inflação no Brasil começar a diminuir relativamente mais cedo em comparação a outros países em desenvolvimento.”
Ele apontou que, no segundo semestre de 2022, o principal fator de redução na inflação foram os cortes de impostos implementado sobre combustíveis, eletricidade e serviço de telecomunicações. Mas, reforçou que a diminuição de inflação se deu por conta do ciclo de aperto de política monetária empreendida pelo BC. “O IPCA caiu do seu pico de 12,1% ao ano de abril de 2022, para 4,2% em abril de 2023.”
As projeções de inflação do Banco Central, segundo Campos Neto, são de 5,8% para 2023, 3,6% para 2024 e 3,4 para 2025. Ressaltou também que, embora tenhamos progredido até agora, ainda a autarquia enfrenta desafios para consolidar a desinflação no Brasil. “Desde o final de 2022, as expectativas de inflação do mercado para 2023 tem aumentado constantemente.”
Novo marco fiscal
Campos Neto também falou sobre o novo arcabouço fiscal, anunciado pele governo. Para ele, a proposta pode, eventualmente, ajudar na missão de ancorar na expectativa de inflação. “Avaliamos que as novas regras evitam os cenários mais extremos da trajetória de dívida pública. No entanto, não há uma relação mecânica entre a política monetária e a apresentação do arcabouço fiscal, pois a convergência da inflação permanece condicionada a outras variáveis macroeconômica, como a reação das expectativas de inflação, as projeções da dívida pública e os preços de ativos.”
Além disso, enfatizou que essa conferência nasceu com o regime de metas para inflação no Brasil e, lembrar que, regime de metas no país tem sido bem-sucedido. “O regime tem se mostrado um arcabouço estável e sólido que atende as diferentes fases da conjuntura econômica e contribui para ancoragem das expectativas.”
Para ele, a credibilidade do arcabouço está justamente em suas estabilidade e o fato de que o não se altera em função da conjuntura econômica ou dos ciclos de política monetária.