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Ucrânia ataca segundo navio russo e faz ultimato naval

Petroleiro foi atingido por drone perto da Crimeia; Kiev dá prazo para embarcações civis deixarem a região


Por Redação Jornal de Brasília

IGOR GIELOW
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

Pela segunda vez no mesmo dia, a Ucrânia atacou um navio russo no mar Negro com um drone carregado de explosivos. O alvo, um petroleiro usado para abastecer forças de ocupação do país de Vladimir Putin no vizinho, foi avariado, mas não afundou.

A ação ocorreu por volta das 21h30 da sexta (4, 15h30 em Brasília) ao sul do estreito de Kertch, que é coberto pela ponte que liga a Crimeia anexada em 2014 à região russa de Krasnodar. O navio, o petroleiro Sig, foi atingido na altura da linha d’água por um bote-robô com 450 kg de explosivos.

O SBU (Serviço de Segurança da Ucrânia, na sigla local) afirmou extraoficialmente a repórteres que “fogos de artifício puderam ser vistos” de longe, mas imagens posteriores mostraram o navio flutuando, embora com água na sua sala de máquinas. Havia 11 pessoas a bordo, segundo a autoridade marítima russa.

O governador russo da área ocupada de Zaporíjia (sul da Ucrânia), Vladimir Rogov, publicou no Telegram que vários tripulantes ficaram feridos com cacos de vidros de janelas, mas nenhum com gravidade. Moscou não confirmou a informação.

O tráfego de carros e trens na ponte da Crimeia, ela mesmo alvo de um ataque com drones aquáticos ucranianos no mês passado, foi interrompido durante a noite. Dois rebocadores trataram de resgatar o Sig.

Na sexta, um drone marítimo atingiu um navio de transporte de tropas e equipamentos russo no porto de Novorossisk, um dos principais terminais petroleiros da Rússia —2% do petróleo cru do mundo passam por lá. Ele não afundou, mas ficou bastante avariado e foi filmado sendo rebocado adernado.

Neste sábado (5), a Autoridade Marítima da Ucrânia emitiu um alerta informando que os seis portos russos no mar Negro seriam considerados áreas de guerra, ou seja, passíveis de ataques, a partir do dia 23. Com isso, Kiev faz um ultimato para que navios deixem a região até lá.

É uma resposta dos ucranianos à escalada no mar desde que Putin deixou o acordo que permitia a exportação de grãos do país invadido em 2022 dos portos de Odessa e do estuário do Danúbio até o Mediterrâneo, passando pelo estreito de Bósforo (Turquia).

Os russos dizem que a contrapartida ocidental para facilitar sua venda de produtos agrícolas e insumos como fertilizantes não foi cumprida. O Fundo Monetário Internacional prevê um impacto inflacionário neste ano de 20% no preço do trigo, principal grão de Kiev, que domina 10% deste mercado.

Desde que deixaram o acordo, no mês passado, os russos passaram a bombardear a infraestrutura portuária ucraniana e silos de grãos, inclusive junto à fronteira da Romênia, um país membro da Otan, aliança militar ocidental que reforçou os voos de patrulha na região.

Agora, Kiev quer dar o troco de forma assimétrica, empregando a frota de drones aquáticos que criou, segundo a Rússia, com a ajuda de técnicos britânicos. Eles vêm sendo usados contra navios militares russos desde a semana passada, tendo o primeiro sucesso na madrugada da sexta. À noite, foi a vez de uma embarcação civil.

Neste sábado, o chefe do SBU, Vassil Maliuk, evitou confirmar diretamente a ação, mas publicou no Telegram que “qualquer incidente com navios russos ou com a ponte da Crimeia é um passo absolutamente lógico e eficiente ante o inimigo”. “Além do mais, essas operações especiais são conduzidas em águas territoriais da Ucrânia, sendo completamente legais”, afirmou.

O Sig pertence à Transpetrochart, uma transportadora de São Petersburgo que já estava sob sanção dos EUA por enviar petróleo para as tropas de Moscou na Síria, onde Putin apoia militarmente a ditadura de Bashar al-Assad na guerra civil do país.

É incerto o poder de fogo de Kiev para cumprir a ameaça, mas o fato é que os drones são de difícil detecção. O país teve sua Marinha essencialmente reduzida a pequenos barcos de patrulha costeira na guerra, mas a antes temida Frota do Mar Negro russa, baseada na Crimeia, teve um desempenho pálido no conflito.

No ano passado, teve sua nau capitânia, o cruzador pesado Moskva, afundado por mísseis antinavio disparados da região de Odessa. Com isso, seus principais navios foram deslocados para portos ocupados no mar de Azov, um braço do mar Negro, e para bases em território russo como Novorossisk.

Ela segue sendo uma frota capaz, com 6 submarinos, 5 navios principais, 32 navios de patrulha, 10 antiminas e 7, de operações anfíbias. Segundo o site de monitoramento de perdas militares Oryx, desde o começo da guerra Moscou perdeu 13 navios, 8 deles destruídos totalmente.

A escalada no mar Negro é um dos aspectos da nova fase da guerra, a sexta até aqui, marcada também pela dificuldade de Kiev em fazer avançar a contraofensiva iniciada há pouco mais de dois meses com grande estardalhaço e apoio de armas ocidentais.

Além disso, Moscou tem intensificado o ritmo de seus bombardeios e montou uma ofensiva própria. Neste sábado, o Ministério da Defesa da Rússia indicou avanços na região de Kupiansk (região de Kharkiv), ao norte de Donetsk (leste ucraniano), com a conquista de uma cidade. A ministra-adjunta da Defesa em Kiev, Hanna Mailar, confirmou que “há intensos combates” na região.

Enquanto isso, na Arábia Saudita, cerca de 40 países começaram neste sábado uma rodada de dois dias para discutir a paz no Leste Europeu. A iniciativa inclui o Ocidente e a Ucrânia, mas a Rússia não foi convidada. Chama a atenção, contudo, a presença da China, que havia se recusado a participar de

reunião semelhante há alguns meses.
Pequim é a maior aliada de Putin, e tem se equilibrado em não condenar a invasão, auferindo vantagens como o maior fluxo de petróleo russo barato, e defender negociações de paz.

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