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Dementia villages: um movimento em expansão

Pequenas comunidades funcionam como cidadezinhas e dão liberdade aos residentes com demência

Por Mariza Tavares — Rio de Janeiro G1

Numa pesquisa realizada pela AARP, entidade norte-americana que representa dezenas de milhões de aposentados, 90% afirmaram que gostariam de envelhecer em suas casas. A ideia de ir para uma instituição de longa permanência (ILPI) assusta a maioria. No entanto, se dependesse de Eloy van Hal, esse sentimento negativo não vingaria. Ele se transformou num evangelizador do modelo que dirige: a comunidade The Hogeweyk, perto de Amsterdan (Holanda), para pessoas com demência. A iniciativa é o símbolo do que se convencionou chamar de dementia village e o conceito vem sendo replicado em diversos países.

O que torna Hogeweyk tão impressionante é que ali vivem pessoas em estado avançado de demência, mas tendo sua autonomia respeitada. São 27 casas, de oito estilos diferentes, para seis ou sete ocupantes, cada um com seu quarto. Cada moradia também tem sua própria cozinha, onde um funcionário cuida das refeições e os hóspedes podem, inclusive, ajudar na preparação dos pratos – o que inclui o manuseio de utensílios e até facas. Almoço e jantar acontecem num espaço coletivo, mas quem quiser sai para comer fora, ou tomar uma taça de vinho, porque a comunidade dispõe dos serviços de uma cidadezinha charmosa: bar, restaurante, supermercado, teatro, ruas arborizadas e jardins. “Os residentes necessitam de muito cuidado e suporte, mas isso não significa que desejem ser tutelados. Na verdade, o que eles mais querem é ter uma vida normal, parecida com a que levavam antes” enfatiza.

Refeição feita pelo grupo que divide uma residência — Foto: Divulgação

Refeição feita pelo grupo que divide uma residência — Foto: Divulgação

A proposta de “Living as usual” (algo como “Vivendo como antes”), afirma Hal, colecionou, ao longo dos anos, evidências sobre seu impacto positivo na qualidade de vida dos idosos: “trabalhamos com sete pilares que se entrelaçam, todos voltados para a criação de um ambiente de respeito. Nada é imposto. Há um leque de opções e os residentes escolhem aquelas que mais lhe agradam”. Quando lhe perguntam se não é arriscado para alguém com demência ter tanta autonomia, é incisivo: “as instituições tradicionais é que são inseguras, com os idosos sentados o dia inteiro e adoecendo facilmente. Há um enorme preconceito em relação à pessoa com demência. Ninguém se joga dentro das fontes ou come plantas”, ironiza.

Engana-se quem pensa que viver ali é para os muito ricos. Inaugurada em 2009, The Hogeweyk é financiada com dinheiro público e seu orçamento é semelhante ao de outras instituições para idosos – o país tem cerca de 2 mil. As mensalidades vão de 175 a 2.500 euros (de pouco mais de mil reais a R$ 14.600) porque há um subsídio para quem tem uma aposentadoria menor. Hal diz que qualquer instituição tem potencial para ir se adaptando: “é preciso deixar para trás a visão meramente médico-hospitalar e adotar uma centrado no indivíduo”.

Idosas com demência fazem compras no supermercado local — Foto: Divulgação

Idosas com demência fazem compras no supermercado local — Foto: Divulgação

Embora não tão conhecidas, há dementia villages em vários países da Europa, e The Hogeweyk presta consultoria para a implantação do modelo, como Hal detalhou num seminário on-line que pode ser conferido nesse link. Nos EUA, há propostas parecidas, como a The Green House Project, adotado em 20 estados norte-americanos. Criado pelo geriatra Bill Thomas, as casas também abrigam um número pequeno de pessoas e cada um tem seu quarto, que é decorado com os móveis e objetos do ocupante. Uma rede de organizações criou o Village Movement: o associado paga uma mensalidade em torno de 50 dólares (270 reais) que lhe garante transporte e serviços de manutenção doméstica. A fórmula atende idosos independentes, que não demandam muita ajuda em suas atividades diárias, nem querem se mudar do lugar onde sempre viveram.

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